sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Inverno

Dos meus dias, das minhas noites, uma valsa trágica a suspirar vida. Sem trapaças, algumas traças, nem banquete, nem taças. O Rei conquistou um trono, ceifou sonhos, se perdeu em seu vinho. Homens lutaram pela sua honra e desonra. Nada mais resta que o uivar dos lobos a cantar os mistérios do longo inverno.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sedimento


Minha desilusão ilusória
faz de mim metade amor,
metade dor - conflito sereno
da filosofia categórica
do meu plasma sentimental

Por ti que tantas batalhas lutei
internas, externas, tanto faz
nada fez, apenas vi o que me compraz,
talvez

Mistérios do meio dia,
lavo o rosto com água fria,
pessoas correndo
homens trabalhando sem tempo para sonhar

Eu aqui com meus pensamentos
de aluvião - desilusão pós tempestade,
sedimento do que carreguei,
nada faz, tanto fez.



Rogério Saraiva

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

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Sempre queremos cuidar da vida dos outros, mas nunca nos oferecemos para cuidar do seu jardim.




Rogério Saraiva
(foto: Akira Kurosowa, the dreams)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Arqueólogo

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Continuo a procura do ouro perdido. Ao escavar, encontro mais uma múmia que muito se parece comigo. Eis que procuramos algo e encontramos outro. Do verbo procurar ao encontrar, uma grande jornada onde muitas vezes não se acha aquilo que se deseja. Eis o arqueólogo da vida, um poeta solitário reescrevendo páginas pra se encontrar no mundo. No fim, continuo sendo um soldado caminhando em suas dúvidas e certezas com armaduras e canhões.
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Rogério Saraiva

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Alguém e alguém

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Um minuto de sossego, partida de futebol de botão, melhor de três, agora só você e eu, quero um pouco menos do mundo e mais de mim, ou vice-versa, tanto faz, agora só você e eu neste momento, há um minuto da vida, três vezes campeão, três vezes perdedor, agora não importa mais, vamos viver para sempre há um passo do universo.
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Rogério Saraiva

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sem título

Dos meus pensamentos passados apenas a existência
Dos futuros, nenhuma desistência
Não errar no acerto, nem acertar no erro
Sem perder a nau da renuncia em mim mesmo
A estrada há duas direções
Seguir em frente em qual direção?
Não sou míssil teleguiado pra saber minha missão
Bússola da vida do caminho da volta
Do destino da ida
No final todos querem apenas
A metade da fruta da Eva intrometida.




Rogério Saraiva

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tão horizonte


Conheço todas as suas faces

Vulnerável que sou

Procuro todas as balas perdidas

Da cidade


Ao encontro do inesperado

Que é tão esperado

Pelas velhas tortas palavras

Anunciadas em letras grandes

Em luzes que acendem

Se apagam repentinamente

Pelo blackout teatral da vida


Da forma procuro o todo

Do todo procuro à calma

Contornando tuas curvas bucólicas

Desenhadas pelo arquiteto ateu

Que mais representa Deus em tuas obras


Teu horizonte em mim

Não encontra fim que separa

Os sonhos da realidade.



*poesia dedicada à cidade de Belo Horizonte.

Rogério Saraiva




sábado, 13 de agosto de 2011

Das casualidades da vida, descobri que as causas são os efeitos, os casos são os feitos. Ao acaso de um "causo" da vida, da vida irmã da morte, do renascer o oposto das sombras. Pensar o sentimento, sentir o pensamento. Águas passadas que moveram os moinhos, se tornaram rios, banharam sonhos e se tornaram oceanos. Cortejar os passos, olhar para o céu e ver o infinito - nada mais que o nada mergulhado em si mesmo.




Rogério Saraiva


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Pão meu


Tristeza minha
de cada dia
Dai-me senhor
o florescer de
um novo dia.

A poesia que nunca nasce
Transborda nas frestas
do lençol freático dos
meus pensamentos.

A poesia que nunca mergulha
Se debate - se afoga

O poeta morre por um segundo
pra entrar na eternidade.



Rogério Saraiva

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Deserto


no deserto dos meus sonhos
a olhar as estrelas distantes

pensamentos

poeira no vento, ar quente nos olhos
suor na pele, barba queimada

a espera, a procura

passos longos, desejos longos
fadiga dos músculos, lábios secos

amor, amar

oasis, água fresca
no fim, uma miragem.


Rogério Saraiva

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Olhos de Soldado



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O sangue em meus olhos demonstram quem sou
A face revestida de um suor sujo de cana queimada
E as mãos calejadas pela foice da vida

Na noite trêmula de meus pensamentos, oro
Oro pela solidão do ar que respiro
E a cada suspiro, um infinito

As cicatrizes de feridas passadas
Dão lugar para as novas chagas que parecem não curar
Haverá cura para um coração isolado na face de um soldado?

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Rogério Saraiva

(foto: Ernest Descals)